quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Lutando pelos próprios direitos

Ghandi durante a Marcha do Sal

No dia 12 de março de 1930, Mahatma Gandhi e vários discípulos iniciaram uma marcha, em protesto à proibição, pelos britânicos, da extração de sal na Índia Colonial e à imposição de comprar os produtos industrializados do Reino Unido.
A marcha, que ficou conhecida como Marcha do sal ou Satyagraha do sal iniciou no mosteiro Sabarmati Ahsram e terminou na pequena aldeia de Dandi.
A comitiva parava de cidade em cidade para descansar, conseguindo assim mais simpatizantes, ao longo da caminhada de quase quatrocentos quilômetros.
Vinte e cinco dias depois, após o banho, ritual sagrado para os hindus, Gandhi apanhou um punhado de sal à beira-mar. Simbolicamente, seu gesto foi imitado pelos milhares de indianos ali presentes.
Em resposta, os britânicos prenderam mais de cinquenta mil indianos, entre eles, o próprio Gandhi.
Se o intuito era acabar com o protesto, de nada adiantou. A marcha continuou, mesmo sem o líder, em direção às salinas ao norte de Bombaim.
Estavam de tal forma impregnados pela atitude de Gandhi que prosseguiram, desejosos de verem exitosa a campanha a que estavam afervorados.
Aproximaram-se em silêncio dos depósitos de sal, guardados por quatrocentos policiais, que investiram contra eles com cassetetes.
Os que protestavam foram tombando, sem esboçar nenhum gesto de defesa. Cada coluna que avançava, era igualmente abatida.
Extraordinário exemplo de líder foi Gandhi. Um fenômeno humano de incrível força cósmica. Sua grandeza e sua coragem pessoal ainda não foram devidamente medidas e compreendidas.
A seu respeito, afirmou outro gênio do século XX: Talvez as gerações futuras dificilmente acreditarão que alguém como ele, em carne e osso, tenha caminhado, um dia, sobre a Terra.
O grande líder demonstrou como é possível equilibrar oração e ação. Vida material e vida espiritual. Ele conseguiu ser dinamicamente passivo e passivamente dinâmico.
A mensagem de sua vida indicou-nos o caminho para nossa própria plenitude.
É um modelo. Ele compreendeu e experimentou, com maior clareza que qualquer outro líder de nosso tempo, que a libertação é um processo que começa na interiorização do homem.
E que alcança sua plenitude e forma explícita no comportamento social e político.
A não violência, como estratégia de libertação, definiu a opção de Gandhi como uma alternativa política que corre inseparavelmente ao encontro de uma ética fundamental da vida.
É um processo de conscientização que propõe ao homem captar a realidade de sua força interior e usá-la para abrir os canais de solidariedade ativa.
Como temos necessidade de líderes e seguidores dessa ordem!
Invistamos em nós mesmos para que a não-violência ativa se converta na praxis de movimento popular, para benefício de todos.
Recordemos o exemplo de Gandhi. Seu testemunho vivenciado é um sinal de esperança e compromisso na renovação e na construção de um mundo mais justo, mais feliz e mais humano.
Em síntese, o mundo do Terceiro Milênio. O mundo pelo qual todos ansiamos.
Trabalhemos para isso.

Redação do Momento Espírita, com base no livro Gandhi, o apóstolo da não-violência, coordenação editorial e Publicação da Editora Martin Claret.

Em 26.8.2015.

sábado, 15 de agosto de 2015

Na memória silenciosa de Deus



Certo dia, passeando pelo parque, notei dois idosos sentados em frente ao lago. Mãos dadas, sorrisos largos e uma cumplicidade admirável entre eles.
Tal cena me chamou profundamente a atenção. Por conta de minha natureza curiosa, me aproximei, no exato instante em que o senhor, distendendo seu braço, aproximou-se de sua amada e a envolveu.
Os lábios brevemente se encostaram, seguido por um eu te amo comovente e apaixonado.
Depois de passar a enrugada mão pelo rosto da esposa, o senhor, sorrindo, virou-se em minha direção – eu, que por conta de minha curiosidade estava perto demais – e asseverou: Sessenta e três anos, meu filho.
Perdão, meu senhor. Não compreendi bem, disse eu, um tanto quanto envergonhado por conta do flagrante.
Sessenta e três anos, repetiu ele, rindo, provavelmente ao constatar meu rubor ligeiro. Nesta semana, minha esposa e eu completamos sessenta e três anos de um casamento feliz e apaixonado.
Puxa! Exclamei. E qual o segredo para um casamento tão duradouro?
O rapaz tem tempo para ouvir a resposta? Hoje em dia, os jovens não têm tempo para nada.
Tenho sim, senhor, respondi, me sentando em outro banco, próximo ao apaixonado casal.
Bem, disse ele, certa vez li, em um livro, o que considero ser a receita para um casamento feliz.
E, tomando as mãos de sua esposa entre as suas, o sábio idoso começou a declamar:

“Nascestes juntos e juntos ficareis para sempre.
Ficareis juntos quando as asas brancas da morte dispersarem os vossos dias.
Sim, ficareis juntos até na memória silenciosa de Deus.
Mas que haja espaço na vossa comunhão. E que os ventos do céu dancem no meio de vós.
Amai-vos um ao outro, mas não façais do amor um empecilho: seja antes um mar vivo entre as praias das vossas almas.
Enchei cada um o copo do outro, mas não bebais no mesmo copo.
Partilhai o pão, mas não comais do mesmo bocado.
Cantai e dançai juntos, sede alegres. Mas permaneça cada um sozinho, como estão sozinhas as cordas do alaúde, embora nelas vibre a mesma harmonia.
Dai os vossos corações, mas não os confieis aos cuidados um do outro.
Porque somente a mão da vida pode conter os vossos corações.
Mantende-vos juntos, mas nunca demasiado próximos. Porque os pilares do templo elevam-se, distanciados, e o carvalho e o cipreste não crescem à sombra um do outro".

* * *

Muitos são aqueles que respondem, superficialmente, que o objetivo do casamento é a perpetuação da Humanidade.
Todavia, a união entre dois seres é marco de progresso no seio da Humanidade.
O objetivo maior é a evolução moral do ser.
É assim que o casamento se constitui em excelente oportunidade de progresso para aqueles que bem sabem aproveitar. Nele, o meu torna-se nosso.
Ainda, eis grande ensejo de desenvolvermos e praticarmos a fraternidade, a tolerância, o desprendimento, o companheirismo, a benevolência.
O casamento é, acima de tudo, afortunada ocasião para compreendermos que o amor só é amor quando se doa, quando não há interesse, quando as necessidades do próximo são tão ou mais importantes do que as nossas.

Pensemos nisso!

Redação do Momento Espírita, com base no cap. O matrimônio, do livro O profeta, de Khalil Gibran, ed. L&PM Pocket.
Em 14.8.2015.